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UNIVERSO PARALELO

Não tenho medo de olhar para trás e lembrar de fraturas expostas, de me arrepender ou de perceber que saí do tom. Eu tenho medo é de dar passos incabados. Isso mesmo. Passos que a gente dá no escuro, no auge do desespero que dá quando a gente se vê sendo o que não é, o que nunca quis ser.
O que faz medo de verdade é o monstro da vida gritando bem alto no seu ouvido um silêncio absurdo que parece dizer tudo. Com respostas escorregadias, seguimos para a mesma vida, para os mesmos caminhos, espinho, escolhas e, no fim do dia, colecionamos rotinas. Batemos cartão, andamos pra lá e pra cá, pedimos o mesmo café e sorrimos duas vezes ao dar bom dia no trabalho. Cada ato é milimetricamente planejado pelo nosso cérebro que, vejam só, pensa. A gente até esquece disso de vez em quando né? A gente se deixa abalar pelo monstro do cotidiano, que entre empurrões e socos, além de um olho roxo e uma postura cansada, nos dá uma baita dor de cotovelo, aquela dor que nos faz acreditar que assim tá bom e que é arriscado demais tentar mudar alguma coisa. Aquela dor que nos faz convencer a si próprios de que pensar é quase um crime, um pecado capital.
E aí, nesse confronto diário contra as próprias insurgências, a gente vira escravo do que se torna sem querer. A gente deixa de lado os sonhos e aspirações juvenis, que nos traziam um ar tão idealista. A gente deixa de lado o livro que sempre quis ler, o filme novo que está em cartaz e as ideias revolucionárias de quem conhece o mundo por uma janela muito pequena, mas que tem uma alma gigantesca.
E então, bate uma saudade de ser quem a gente era sem querer. Aquela pessoa escondida entre os lençois e as armaduras, mas que trazia o mundo dentro de si, guardado a sete chaves e punhais, num universo paralelo, mágico, lúdico, onde sempre cabia mais um punhado de alegria e um abraço sincero.
Por isso, me dá tanto medo os tais passos inacabados. Vai que num desses passos a gente cai com tudo no buraco onde mora quem a gente não quer ser. A gente faz o quê? Chora? Grita? Esperneia? Não, não dá. Porque dar um passo inacabado foi fruto de uma inconsequente, mas absolutamente racional, escolha.

E é por isso que é tão importante dar passos firmes. Porque são eles que nos orientam e nos guiam para o caminho mais satisfatório de caminhar e de ser descoberto: o caminho que nos leva a nós mesmos.
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Parar ler ao som de: The Beatles - Across the Universe


Desde muito jovem, ficava fascinada quando via aviões. Era só ouvir o barulho de um deles rasgando o céu que eu corria na janela para acenar. E hoje, sei lá quantos anos depois, quase sempre é difícil conter a mão que se levanta em direção ao oceano azul que mora acima das nossas cabeças quando um deles passa. E mesmo quando não aceno, o olhar vago e curioso persiste.

O que me encantava era achar que alguém podia me ver lá de cima. Que no meio de tanta imensidão, de tantas casinhas e pessoas do tamanho de uma formiga, alguém lá em cima, andando entre as núvens, ia ver minha mão correndo pra lá e pra cá como quem diz "ei, eu também não sou daqui, a gente se reconhece".
 
Por mais seguros que estejamos de nós mesmos, a gente sempre espera por alguém que acene de volta. Por alguém que dê a certeza de que não estamos sozinhos. Ou esperamos por alguém que nos observe, nos enxerge em meio a multidão e, como se fôssemos um grão de milho em meio às ervilhas, nos perceba. Porque, às vezes, a gente precisa que os outros nos reconheçam como especiais, não importa o quanto a gente acredite ou saiba disso internamente. Uma frase repetida mil vezes, ou perde o sentido, ou vira verdade absoluta. E é assim que isso funciona.
 
A gente sempre espera pela mão que lá do alto vai nos salvar de nós mesmos com um aceno. E então, só então, poderemos caminhar seguros de que andar com os pés no chão não significa ter que abrir mão de uma cabeça que vive nas núvens.

Nunca deixe de acenar de volta. Você pode ser a certeza de alguém.

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Fantasias delirantes de alguém que criou uma realidade alternativa para se refugiar nos próprios dogmas. BA, 24.
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