facebook linkedin twitter youtube

UNIVERSO PARALELO

Não costumo copiar textos na íntegra, mas após entender a reflexão sensata e curiosa que esse artigo propõe, resolvi compartilhar aqui. Curiosa porque foi escrita por um professor de física teórica da Dartmouth College (EUA), um cientista brasileiro renomado e autor do livro "Criação Imperfeita", que eu já recomendei aqui anteriormente. Estou falando do Marcelo Gleiser, alguém acima de qualquer suspeita para falar de fracasso e que, no entanto, faz uma análise muito lúcida sobre a importância de fracassar.

ひみつB 
HOMENAGEM AO FRACASSO

 Todo poeta, todo pintor, todo cientista coleciona um número bem maior de fracassos do que sucessos. Numa sociedade em que o sucesso é almejado e festejado acima de tudo, onde estrelas, milionários e campeões são os ídolos de todos, o fracasso é visto como algo embaraçoso e constrangedor, que a gente evita a todo custo e, quando não tem jeito, esconde dos outros. Talvez não devesse ser assim.

Semana passada, li um ensaio sobre o fracasso no "New York Times" de autoria de Costica Bradatan, que ensina religião comparada em uma universidade nos EUA. Inspirado por Bradatan, resolvi apresentar minha própria homenagem ao fracasso.

Fracassamos quando tentamos fazer algo. Só isso já mostra o valor do fracasso, representando nosso esforço. Não fracassar é bem pior, pois representa a inércia ou, pior, o medo de tentar. Na ciência ou nas artes, não fracassar significa não criar. Todo poeta, todo pintor, todo cientista coleciona um número bem maior de fracassos do que de sucessos. São frases que não funcionam, traços que não convencem, hipót eses que falham. O físico Richard Feynman famosamente disse que cientistas passam a maior parte de seu tempo enchendo a lata de lixo com ideias erradas. Pois é. Mas sem os erros não vamos em frente. O sucesso é filho do fracasso.

Tem gente que acha que gênio é aquele cara que nunca fracassa, para quem tudo dá certo, meio que magicamente. Nada disso. Todo gênio passa pelas dores do processo criativo, pelos inevitáveis fracassos e becos sem saída, até chegar a uma solução que funcione. Talvez seja por isso que o autor Irving Stone tenha chamado seu romance sobre a vida de Michelangelo de "A Agonia e o Êxtase". Ambos são partes do processo criativo, a agonia vinda do fracasso, o êxtase do senso de alcançar um objetivo, de ter criado algo que ninguém criou, algo de novo.

O fracasso garante nossa humildade ao confrontarmos os desafios da vida. Se tivéssemos sempre sucesso, como entender os que fracassam? Nisso, o fracasso é essencial para a empat ia, tão importante na convivência social.

Gosto sempre de dizer que os melhores professores são os que tiveram que trabalhar mais quando alunos. Esse esforço extra dimensiona a dificuldade que as pessoas podem ter quando tentam aprender algo de novo, fazendo do professor uma pessoa mais empática e, assim, mais eficiente. Sem o fracasso, teríamos apenas os vencedores, impacientes em ensinar os menos habilidosos o que para eles foi tão fácil de entender ou atingir.

Claro, sendo os humanos do jeito que são, a vaidade pessoal muitas vezes obscurece a memória dos fracassos passados; isso é típico daqueles mais arrogantes, que escondem seus fracassos e dificuldades por trás de uma máscara de sucesso. Se o fracasso fosse mais aceito socialmente, existiriam menos pessoas arrogantes no mundo.

Não poderia terminar sem mencionar o fracasso final a que todos nos submetemos, a falha do nosso corpo ao encontrarmos a morte.

Desse fracasso ninguém escapa, mesmo que existam muitos que acreditem numa espécie de permanência incorpórea após a morte. De minha parte, sabendo desse fracasso inevitável, me apego ao seu irmão mais palatável, o que vem das várias tentativas de viver a vida o mais intensamente possível. O fracasso tem gosto de vida.

Share
Tweet
Pin
Share
No comentários
parasoling dandelion
Foto: Pinterest
Há dias em que o silêncio grita. Entre vogais e consoantes, mede o tamanho da minha saudade. Perfura-me inutilmente, pois não percebe que já estou partida. De cima, onde tudo lá embaixo parece pequeno demais, só a minha dor parece grande. Só o meu pesar parece pesar.

Dizer adeus em vão é entregar o barco à tempestade, ainda que sabendo do horizonte pleno esperando logo ali na frente. Dizer adeus ao que se ama é destrancar a porta que guarda acalentadas todas as suas seguranças, nomeadas e etiquetadas, como que numa tentativa absurda de classificar o que te prende ao chão. A cabeça cheia também grita, sempre que percebe que não é nada entre tantas outras cabeças. E atravessa a multidão fervilhando, mas guardando para si o que é.

A linha tênue entre a saudade e o amor é imaginária. Não há divisão, não há limite, ambas se confundem e uma  bebe da outra. Sentir falta é, pois, por tabela, amar uma situação, uma coisa, alguém. Amar ainda mais aquilo que ali não está. Todo amor é saudade. Então, todo amor remete ao passado. Ou ao futuro, porque é possível sentir saudade do que ainda vai ser vivido. E mais ainda ao presente, esse tempo remoto e lívido, que escorre entre as nossas crenças, nos fazendo ajoelhar aos céus clamando pela sua continuidade. O mais cruel de todos é o presente, que escapa toda vez que alguém pensa nele. Que é sempre indisponível, fugaz, etéreo. Que tem sempre cheiro de passado e gosto de adeus.

Tudo é saudade nessa vida.
E, ai meu Deus, não me repreende se eu disser que tudo também é amor.
Share
Tweet
Pin
Share
No comentários
Newer Posts
Older Posts

Quem sou eu

Minha foto
Lari
Fantasias delirantes de alguém que criou uma realidade alternativa para se refugiar nos próprios dogmas. BA, 24.
Visualizar meu perfil completo

A GENTE SE VÊ POR AÍ

  • Twitter
  • Pinterest
  • Instagram

Blog Archive

  • Abril 2018 (1)
  • Março 2018 (3)
  • Fevereiro 2018 (1)
  • Janeiro 2018 (10)
  • Dezembro 2017 (3)
  • Novembro 2017 (2)
  • Outubro 2017 (4)
  • Setembro 2017 (2)
  • Agosto 2017 (1)
  • Julho 2017 (1)
  • Maio 2017 (1)
  • Abril 2017 (2)
  • Abril 2016 (2)
  • Outubro 2015 (1)
  • Setembro 2015 (3)
  • Maio 2014 (1)
  • Fevereiro 2014 (2)
  • Janeiro 2014 (2)
  • Novembro 2013 (2)
  • Outubro 2013 (2)
  • Agosto 2013 (1)
  • Julho 2013 (1)
  • Junho 2013 (2)
  • Maio 2013 (3)
  • Abril 2013 (4)
  • Março 2013 (2)
  • Janeiro 2013 (5)
  • Dezembro 2012 (7)
  • Novembro 2012 (2)
  • Outubro 2012 (4)
  • Setembro 2012 (2)
  • Agosto 2012 (4)
  • Julho 2012 (1)
  • Junho 2012 (3)
  • Maio 2012 (9)
  • Março 2012 (4)
  • Fevereiro 2012 (5)
  • Janeiro 2012 (1)
  • Dezembro 2011 (3)
  • Novembro 2011 (1)
  • Setembro 2011 (1)
  • Julho 2011 (1)
  • Junho 2011 (7)
  • Maio 2011 (1)
  • Abril 2011 (3)
  • Março 2011 (6)
  • Fevereiro 2011 (4)
  • Janeiro 2011 (11)
  • Dezembro 2010 (11)
  • Novembro 2010 (28)
  • Outubro 2010 (6)
  • Setembro 2010 (16)
  • Agosto 2010 (24)
  • Julho 2010 (17)
  • Junho 2010 (1)
  • Fevereiro 2010 (2)
  • Janeiro 2010 (2)
  • Dezembro 2009 (6)
  • Novembro 2009 (6)
  • Outubro 2009 (7)
  • Setembro 2009 (13)
  • Agosto 2009 (12)
  • Julho 2009 (13)
  • Junho 2009 (8)

Created with by ThemeXpose | Distributed By Gooyaabi Templates